Google+ Tribuna Estudantil - O Jornal do HD: Sobre as palavras que guardei: dez anos do jornal Tribuna Estudantil

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Sobre as palavras que guardei: dez anos do jornal Tribuna Estudantil

Sobre as palavras que guardei: dez anos do jornal Tribuna Estudantil


Não me lembro do primeiro texto que escrevi para o Tribuna Estudantil, há dez anos, assim como, às vezes, me esqueço de que o tempo passa acelerado, “só anda de ida”, como diria Manoel de Barros. Na época em que escrevia para o jornal, eu ainda não conhecia a poesia de Manoel. Eu me perdia nas horas de descuido, nas horas das palavras que estavam dentro de mim, correndo como um rio corre nas lágrimas da adolescência. 
Parece estranho começar um texto sobre o jornalzinho da escola falando de coisas de adolescente, já que agora tenho vinte e quatro anos, não mais dezesseis. No entanto, nas letras que compõem este texto, há muito de tudo que foi escrito há dez anos, quando eu ainda estudava na E.E. Henrique Diniz. 
O Tribuna foi a possibilidade mais bonita que me foi apresentada no Ensino Médio. Sei que não falo só por mim. Há um laço afetivo individual: a minha relação com o jornal e com os queridos professores que o criaram, Paula e Felipe; há também um laço coletivo: o diálogo entre todos os alunos, através do mural no corredor da escola. O Tribuna era – e ainda é – uma espécie de vitrine, onde abríamos aos outros as nossas palavras, os nossos traços (nos desenhos), as nossas críticas e reflexões a respeito da vida, do mundo, da escola e, sobretudo, de nós mesmos. 
Essa vitrine foi sempre um convite, um chamado à participação, à pausa, ao olhar para o outro. Nos intervalos, quando havia algo novo nessa vitrine, os alunos paravam e olhavam a expressão do outro, fosse num poema, num texto de desabafo ou crítica, fosse num desenho ou numa foto. Havia ali um encontro.
E eu parava. Olhava e procurava o meu texto. Eu me lia. A escrita era / é, para mim, uma abertura de possibilidades, um refúgio, uma revolta, assim como deve ser para quem lê o meu texto agora. Para vocês que se encontram comigo neste texto. Era preciso escrever e, mais que isso, era preciso que eu me lesse depois, para re-guardar as minhas palavras de maneira nova. Para que, na minha leitura, eu me ouvisse. Que eu aprendesse comigo. O mesmo exercício de releitura devia ser feito com o texto do outro, do meu amigo que estava ao meu lado no mural, formando uma vitrine heterogênea. Afinal, somos diferentes uns dos outros e isso é movimento e oportunidade de aprendizado.
Pude praticar muito a maneira de lidar com a linguagem e me afeiçoei tanto a ela, que hoje sou formada em Letras, mestranda em Literatura e leitora dos novos nomes e novas palavras da vitrine Tribuna Estudantil. Fiz Letras justamente por querer ser como alguém que sempre admirei: a professora Paula, de quem serei sempre pupila. Estamos sempre na posição de aprendizes e isso é importante guardar.
Parabenizo os professores que tiveram essa iniciativa, que viabilizaram o espaço que deu voz aos alunos. Professores que construíram o lugar onde os alunos são protagonistas de suas palavras. Sei que, assim como eu, eles saberão guardar esses encontros, saberão ler-se, ler o outro e o mundo de modo crítico, mas nem por isso menos bonito.
Tudo eu guardei dentro do coração. Guardo meus poemas. Guardo os textos em que falava sobre a brevidade da vida, sobre amar as pessoas, sobre a revolta diante da injustiça. Tudo eu tenho guardado. Guardo os amigos e suas leituras, guardo os professores e seus incentivos. Guardo a saudade daquelas manhãs no corredor do HD.

Minha eterna gratidão, 


Lídia Maria de Oliveira Silva (Flor-de-Lis) 

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