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terça-feira, 24 de novembro de 2020

Testamento às almas perdidas

 

Por Vitória Maria Gava Ferreira, 3.9

 

Testamento às almas perdidas


 

Eu bem me lembro do dia em que senti vergonha do Sol, das vezes em que me machuquei, para ter certeza de que ainda sangrava, para saber se ainda estava viva, e na verdade, não estava. Quem escreve esta carta já esteve morta, não a morte carnal na qual o corpo é presenteado à terra, mas a pior morte de todas, silenciosa e infinitamente dolorosa, a morte da alma.

Viver não fazia sentido, viver era dor, minha respiração me incomodava, e muitas vezes tentei me encontrar com o anjo da morte. Eu acordava querendo dormir, esperava o dia passar angustiosamente, e muitas vezes de noite chorava até dormir, alguma delas com uma sacola na cabeça ou uma corda presa ao pescoço, consequência das minhas inúmeras tentativas inválidas de acabar com aquilo que sentia, acabar com a dor, e parecia que ela nunca iria embora, que havia me escolhido para me perturbar enquanto existisse, eu me sentia como em um inferno pessoal, como se tudo no mundo existisse para me iludir, e no fundo me causar ainda mais frustrações.

Eu sei que terão pessoas que acharão este texto lúgubre demais, mas eu também sei que em algum momento terá alguém que lerá estas frases com lágrimas nos olhos, triste, se identificando com cada palavra, e este testamento é especialmente dedicado a você.

Eu não sei muito bem o que falar para te convencer, pois eu já senti isso e sei que é muito difícil acreditar na felicidade, acreditar que tudo vai mudar. Eu achava impossível. Eu acreditava que o mundo era um lugar sombrio, repleto de dor; para mim, todas as pessoas deviam morrer também, pois as atitudes extravagantes do ser humano não afetavam incansavelmente a ele, mas também as outras formas de vida, os animais, as plantas, o homem não é somente o lobo do homem, é também o lobo de tudo.

Mas o homem também pode salvar, existem pessoas boas, ou ao menos que tentam ser boas e isto já deveria contar, afinal nascemos, temos consciência de tudo ou boa parte do que está ao nosso redor, mas não ganhamos nenhum manual de como viver. O homem estraga, mas tem a capacidade de consertar, o homem também pode deixar melhor. O homem é o ser mais confuso do universo, a ele pertence a solidão e a perdição, mas também a solidariedade, o amor e o revigoramento.

E foi com a ajuda do homem que eu saí deste buraco em que eu estava presa há tanto tempo que parecia não ter fim. Primeiramente, esta parabenização pertence a mim, eu precisei suportar muito para chegar até aqui, precisei de paciência, força de vontade, eu não trilhei um caminho perfeito, retilíneo, não! Como tudo na vida, houve contratempos, passos à frente, passos para trás, curvas e devaneios, mas depois de um tempo, já comecei a ver a estrada colorida, comecei a acreditar na felicidade, pois ela também me acompanhou por alguns momentos, e a dor deixou de me seguir, ela não desapareceu. Agora eu não a sinto o tempo todo, somente quando ela realmente deve se apresentar, e tem sido maravilhoso.

Não houve fórmula mágica, ou algum tipo de ritual religioso, eu apenas comecei a fazer tratamento psiquiátrico e psicológico, eu tomo alguns medicamentos e tento dar o meu melhor, me expressar ajuda muito! Principalmente se você tem o hábito de se machucar propositalmente, experimente desenhar, cantar, dançar, tocar algum instrumento, não se preocupe com a beleza, tente externalizar o que está sentindo, mesmo sabendo que é impossível, tente! Praticar exercícios físicos, conversar com pessoas de que você gosta também ajuda bastante, mas não se cobre demais, tome seu tempo, faça o que for melhor para você!

Mas, por favor, se você sente parte das coisas que citei acima, não espere! Procure ajuda imediatamente, converse com pessoas ao seu redor, não precisa dizer muito, fale que sente necessidade de ter um acompanhamento médico. E, se você já está em algum tratamento, mas não sente melhoras, ou acha que está piorando, pare! Eu também já passei por isso, o tratamento é algo muito pessoal e precisa ser feito com pessoas de sua confiança, pessoas com quem você se sente melhor quando acaba a consulta, nunca o contrário.

Por favor, não perca as esperanças, eu digo isso quase chorando porque, se eu tivesse feito esta carta para mim mesma no passado, muito provavelmente não teria me convencido, a dor é tão forte que nos cega. Mas hoje eu estou tão bem, finalmente normal! Hoje eu estou feliz, e tenho certeza de que você também estará! Dê uma chance a você mesmo, algo incrível te aguarda! Hoje eu tento dar a você, querido leitor, algo difícil, mas não impossível de se ter, com a minha história, eu tento te dar esperança...

O gênio

 

Por André Lucas Antunes Dias, 3.9

 

O gênio

 


O poeta que procura se isolar no egocentrismo lírico

Se engana ao achar que está falando somente de si

Dissociado do outro

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