Por Vitória Maria Gava Ferreira, 2.14
Presente,
esse troço que não acaba, nem passa, nem fica
Parte 1
E cada vez que eu fecho os olhos
Eu sinto que devia acordar
Mas toda vez que eu acordo
Eu sempre volto a dormir
E te pergunto: o que adianta
fazer as viagens mais longas de olhos abertos?
Indo o mais longe possível de mim
mesmo,
Indo para outros universos
Talvez meu medo de dormir, seja
que eu não quero revirar os olhos pra dentro
Sinto que estou perdendo tempo
E penso: ora, perdemos metade da
vida dormindo
Mas quanto tempo eu desperdiço
com anúncios assistidos?
Talvez eu esteja perdendo mais
tempo acordado
Uma dose de dopamina aqui, outra
de adrenalina ali, ficando com raiva sem motivo
Eu não me atrevo a fazer as
viagens mais psicodélicas dentro de mim
Já não sei o que posso encontrar
Está uma bagunça lá dentro
Mas deixo um sorriso no rosto
Com certeza ninguém está vendo
A poeira embaixo do tapete
Como eu deixei tudo isso
acontecer?
Vou me desprendendo de tudo
Não me agarrando em nada
Eu sempre quis voar
Mas já estou tão longe
Eu me sinto sozinha aqui
Me perdi dentro de mim
E quem precisa de bebidas?
E quem precisa de cigarro?
Me embriaguei de coisas mal
resolvidas
Saí da lama e entrei no barro
A obra, para se concretizar
Só faltou um pouco de cimento
E isso eu preenchi o bastante
Com doses de conhecimento
Minhas lágrimas molharam a massa
só falta me modelar
Mas a artista que vivia em mim
Está em outro lugar
A massa vai secando
Enquanto me comparo a um bolo
Eu preciso fazer isso sozinho
Mas tão só me sinto um tolo
O que adianta ter talentos
dobrados
Se não é nem um pouco esforçado?
Tanto planejado, nada
concretizado.