Por Andreza Cristina Siqueira Coelho – 3.2
Esta é uma história que aconteceu no fim da década de 1960, na Austrália, especificamente no município de Brisbane, um lugar pequeno em que raramente apareciam flores, animais e primavera.
Todo dia eu a via com aquele rosto sereno e singelo, que se espremia entre as grades de uma imensa casa procurando, com o olhar, o jardim. Estava com um vestido azul no corpo e carregando na sua mão esquerda uma cesta de palha, muito grande, considerando o seu tamanho. A mãe, por sua vez, obrigara a menina a vender os bolos e doces que fazia, esperando aumentar a renda da família.
Numa tarde ensolarada, logo após a manhã na escola, a garota partiu para a venda disposta a ter um dia lucrativo. Mas, quando estava subindo o morro, deparou com a coisa mais linda que vira na vida, uma borboleta, era a primeira borboleta que avistara, suas asas eram azuis com as bordas pretas, o que a fez relembrar os pequeninos olhos de sua irmã. Sem pensar duas vezes, a menina começou a seguir a borboleta e, desta forma, parou aqui nesta imensa casa, em meio às grades. O jardim um pouco distante parecia intacto, com as árvores e rosas brilhando com a luz do sol. E então, ela virou-se e começou a caminhar, guardando, como se fosse o maior tesouro de sua vida, a imagem daquela borboleta. E aquela era a primeira de muitas borboletas que a menina iria colecionar.
A situação econômica da Austrália não ia lá muito bem, e por isso, a família de Lauriel, nossa colecionadora de borboletas, estava vivendo à beira da miséria. Ela e os seus seis irmãos tinham que dividir o pouco de comida que restava, porém o pior ainda iria acontecer. Com o pouco dinheiro, a jornada de trabalho de Lauriel triplicou e ela nem mesmo estava indo à escola. Num desses dias quaisquer, a menina iria colecionar a borboleta mais marcante de sua vida.
Era quase noite e a garota ainda vendia os bolos e doces na parte rica da cidade e, de vez em quando, recebia uma gorjeta que gastava comprando balas para tapear a fome. Chegando à rua da sua casa, viu de longe um aglomerado de pessoas que mal a deixavam se aproximar, olhou para o alto e viu que o céu se tornava escuro somente em cima da casa dela. Lauriel deixou sua cesta cair e começou a correr, ansiosa para ver o que estava acontecendo. Era um incêndio, sua casa estava parcialmente queimada, justamente no quarto onde sua mãe e seus irmãos costumavam ficar. Só parou de correr quando adentrava a casa e, na sala, encontrou a irmã, encostada num canto com o rosto imerso em lágrimas e bastou um olhar entre as duas para concluir o ocorrido. De mãos dadas, Lauriel e sua irmã saíram da casa em direção à cesta que a mesma deixou cair, os olhares de pena das pessoas não aliviavam o momento. E lá estava ela, vermelha e marrom, pousada na cesta de bolos e doces da garota, a borboleta que certamente a menina não esqueceria jamais. E ela voou indo para o céu escuro e sombrio em cima das duas irmãs.
Três meses depois, Lauriel e sua irmã foram adotadas por um casal simples também da Austrália e o que Lauriel não sabia é que muitas borboletas ainda iriam cruzar o seu caminho, em situações completamente diferentes.