Refutando o ateísmo: um falso Deus
Seja qual for sua crença, seja você cético ou teísta, você concorda que o mundo ao nosso redor, as coisas que vemos – animais, plantas, a matéria e até o universo, que, segundo os cientistas, surgiu há 14 bilhões de anos, tudo isso não surgiu pronto. Teve uma causa primeira, um princípio. Mas você deve estar se perguntando: o que é esse princípio?
Talvez a resposta seja o motor imóvel de Aristóteles. Essa teoria sugere que tudo tem uma causa primeira, um ato que gera outro. Se regredirmos ao princípio desse ato, ele não poderia ter sido criado por nada nem ninguém, pois essa entidade foi a primeira coisa a existir. Esse motor gera um resultado que gera outro e outro, tornando-se uma cadeia de eventos. Porém, se esse motor é imóvel, como ele move as coisas? "Por meio da atração", pois ele é inteligente e perfeito, e todas as coisas o buscam.
Se toda causa gera um resultado que gera outra causa, como algo pode surgir sem ser provocado por nada? Esse pequeno questionamento abre espaço para o que podemos chamar de Deus. Mas você deve estar se perguntando: por que esse motor não pode ser outra coisa, como, por exemplo, o Big Bang?
Para respondermos a essa dúvida, vamos primeiro entender quais as características que Aristóteles atribuiu ao motor imóvel: ele é eterno, possui vontade própria, é perfeito, move pela atração, é inteligível, único, indivisível e inalterável. Ou seja, qualquer candidato a ser esse princípio precisa preencher essas características. Dito isso, vamos responder à pergunta anterior. O Big Bang não pode ser o motor imóvel, pois, segundo os cientistas, ele está em constante expansão, portanto, não possui natureza inalterada.
Essa linha argumentativa, que sugere que o motor imóvel de Aristóteles é, na verdade, Deus, foi proposta pelo filósofo e teólogo Tomás de Aquino em sua obra Suma Teológica, na qual apresenta cinco vias ou argumentos para a existência de Deus.
Mas, se Deus existe e é um ser tão poderoso a ponto de criar estrelas, galáxias, planetas, nebulosas, buracos negros e etc., por que há o mal no mundo? Por que um ser onipotente (capaz de tudo), onisciente (sabe de todas as coisas) e onipresente (está em todos os lugares), sendo benevolente (possui natureza bondosa), permite que crianças e pessoas inocentes morram?
Esse questionamento foi feito por Epicuro, um filósofo proeminente do helenismo. Ele propôs cenários possíveis: Deus quer acabar com o mal, mas não consegue, então não merece esse título. Deus pode eliminar o mal, mas não quer, então ele é malévolo. Deus não quer e não pode eliminar o mal, portanto, não merece o título de Deus, pois é fraco e malévolo. Deus pode e quer eliminar o mal; então, por que o mal ainda existe?
Esses foram os questionamentos levantados por Epicuro sobre a existência do mal. Então, por que Deus não faz nada? Bom, o mal não existe, assim como o escuro também não. O escuro é, na verdade, a ausência de luz, e o mal é a falta de bem. Este não é culpa de Deus, pois ele te dá a liberdade de fazer o que você quer, mas o que você faz com essa liberdade é com você.
Vamos imaginar a seguinte situação: você entrega uma caneta a uma pessoa, e ela começa a escrever coisas horríveis. Isso seria culpa sua? Evidentemente, não, porque você apenas deu a caneta, mas o que ela faz com a possibilidade de escolha é com ela. Ninguém pode ser responsabilizado por algo feito por outra pessoa.
Mas, se o livre-arbítrio é um problema tão latente, por que esse ser superior não criou a raça humana sem esse privilégio? Bom, porque isso tornaria a própria criação humana algo totalmente diferente. Não seríamos a imagem e semelhança de Deus, mas sim marionetes sem vontade própria.
Convido você a imaginar outro cenário para exemplificar o que estou querendo dizer. Alfred Nobel, inventor do Prêmio Nobel e também da dinamite, originalmente criou esse dispositivo para facilitar trabalhos na construção civil e na mineração. Mais tarde, sua invenção foi usada em guerras para matar pessoas. Se adotarmos a linha de raciocínio que diz que Deus é responsável por todo mal, pois criou o livre-arbítrio, seria o mesmo que dizer que quem entregou a caneta ou quem criou a dinamite é responsável pelas coisas que terceiros fizeram com o que criaram.
Agora, eu te pergunto: é justo culpar Alfred ou você, que entregou a caneta naquele cenário hipotético? Creio que não, pois é algo inerente à natureza humana distorcer quase tudo que é bom para benefício próprio, como leis, invenções, entre outras coisas.
Mas isso pode nos levar a outra dúvida instigante: se a ciência avançou tanto, ainda faz sentido acreditar em Deus? Por mais que a ciência tenha avançado, ela não é absoluta, pois isso fere a própria concepção do método científico, que prega que nem o conhecimento é soberano e 100% confiável. O conhecimento está em constante mudança. Uma das características da ciência é questionar as próprias descobertas, admitindo que se sabe de algo, mas que esse algo pode mudar.
Esse instrumento maravilhoso chamado ciência continua sendo muito importante, mas é impróprio para buscar entender Deus, pois ele é um ser metafísico, além da matéria. Como é possível explicá-lo utilizando um instrumento inadequado? Além disso, há muitas coisas que não podem ser explicadas por meio da ciência, como conceitos abstratos.
Se mesmo assim ainda não te convenci, te convido a imaginar possíveis cenários para mostrar como o ateísmo é arriscado. Não existe uma entidade superior, e você é ateu – então, não acontece nada. Você é ateu, e Deus existe – então, você está numa situação complicada, pois não acreditava em Deus e pode haver consequências. Você acredita em Deus, e Deus existe – então, você se deu bem, pois apostou do lado certo. Você acredita em Deus, e Deus não existe – ainda assim, nada acontece com você.
Percebe que, de todas as formas, quem aposta na existência de um criador nunca sai perdendo? Por isso, afirmo com veemência que o ateísmo é uma posição arriscada. Isso é o que podemos concluir ao analisarmos a "aposta de Pascal". E você, em qual lado vai apostar?