Vitória Maria, 1.2
Uma História de
Vitória
s vezes, me lembro daquela
pequena igreja azul, me comparo a ela em muitas ocasiões, vendo as relações
sociais das pessoas na minha frente, enquanto eu fria e quieta aguardo alguma
chance de me relacionar, sozinha na multidão, sendo usada, desrespeitada ou
tratada como objeto, embora também veja os risos alheios, me empolgo, me
alegro, me enfeito às vezes, sinto a paz do silencio, ouço os gritos dos
cantos, as músicas, e tudo isso faz parte de mim, da minha história. E da
história daquela igreja. Talvez você não acredite no que eu vou lhe contar. É
uma verdade difícil de ser digerida por muitos, mas peço que leia este texto
com carinho, respeitando as minhas crenças e a de minha família, que sempre vem
me apoiando em tudo. Espero que goste.
Deus é a essência da vida, mesmo
que às vezes você se esqueça de que ele está lá e se sinta sozinho, ele te vê
se perguntando "por quê?" te acompanha em todos os passos, e passa
por todo o sofrimento junto de ti. Deus também contém toques mágicos, aqueles
que nem a ciência; nem os ateus; nem os historiadores conseguem desvendar. Como
o motivo de partículas comprimidas se expandirem de repente, criando um
universo tão vasto e bonito. Ou dois gametas se encontrarem e darem origem a
uma vida.
Minha história começa bem antes de mim, acho
que todas começam assim; mas pra resumir, vou começar com a história daquela
pequena igreja azul que citei no começo.
Tudo começou com uma vontade, uma
vontade incomensurável de um jovem descendente Italiano de levantar uma capela
em um alto morro de uma cidade. Esse jovem por coincidência era meu parente,
algo como o irmão do meu bisavô... Pelo que me contam. Mas pra essa vontade se
consolidar era preciso uma imagem, algum título para se erguer a capela. Maio
de algum ano que eu não me lembro, pois não estava lá, mas era um mês frio,
semana de exposição, e uma imagem de Nossa Senhora de Fátima estava a caminho
de Barbacena, por algum motivo inesperado o Helicóptero que a carregava teve
problemas ao tentar pousar. E teve que aterrissar em outro lugar, foi logo
naquele morro que o Italiano Zinho sonhava. Alguns diriam que foi pura
coincidência, pra ele algo divino. Mas não há dúvidas que aquele era o destino.
E minha mãe cresceu ao lado daquela igreja, até que alcançou certa idade e
reencontrou certo rapaz que havia estudado com ela, então um disse para o outro
"Não quero nada sério"; um dia depois se beijaram; um mês depois esse
rapaz estava bebendo vinho na casa dela com a minha avó chamando ele de genro.
Alguns anos depois e eles estavam casados. (então você para e pensa em como um
dia da sua vida pode mudar toda a sua história, se a minha mãe tivesse decidido
fazer outro percurso aquela tarde, talvez a minha casa não existiria hoje, nem
as rosas, nem as flores, e nem a pessoa que relata esses fatos contundentes,
aquele momento que você percebe que uma esquina mudaria a sua vida).
Algo que não citei é que minha mãe tem um
problema de sangue chamado ''von Willebrand'' uma doença hemorrágica
hereditária. Resumindo: Ela não pode se cortar, e qualquer pequena esbarradinha
é motivo para um novo hematoma. Consequentemente, não podia ter filhos... Nunca!
Algo que ela escutou desde pequena; filhos chegavam a ser sinônimo de morte.
Enfim... Se passaram três anos após o casamento, minha mãe engravidou!!Ela era
professora de informática na Escola Agrícola (atual IFET) e já estava comigo em
seu ventre havia cinco meses. Ao voltar pra casa... Um deslize do carro, em
frente aquela igreja, um acidente trágico que quase nos levou a morte. Sim
quase, minha mãe diz que a única coisa que viu naquele instante foram nuvens.
Nossa senhora de Fátima apareceu em meio às nuvens! Ela diz ter sentido um
amparo, como se mãos divinas protegessem aquele carro. Só onde estávamos não
foi destruído completamente, minha mãe me sentiu pular, então não viu mais
nada. Todos tiveram que ir para Juiz de Fora (pois em Barbacena não há um
hospital específico para a doença dela). Minha mãe foi se recuperando, um dia a
enfermeira chegou perto dela e disse "Se esse bebê for uma menina tem que
se chamar Vitória, pois será uma vitória!!". Algumas semanas depois e uma
prima da minha mãe vai visitá-la e leva uma grande imagem da mãezinha (como eu
gosto de chamar carinhosamente Nossa Senhora) para ela, e diz "Se esse
bebê nascer tem que se chamar Maria, pois foi Maria quem a salvou''. Adivinhem
quem está escrevendo este texto?? Vitória Maria. E eu perguntava "Mãe, por
que não Maria Vitória?". E ela "Porque Vitória veio primeiro".
Tá bom, tá bom... acho que isso já serve como biografia para eles.
Certa professora me aconselhou a
ser objetiva, eu tentei! Tentei mesmo!! Acho que me saí bem até aqui (se
acha que não me saí bem, nem imaginaria o que eu tinha em mente para escrever,
desde já agradeço).
Pra começar saibam que eu procrastino
demaaaais e sou muito esquecida, diria que este texto é para ser entregue
amanhã, porém já passou da meia noite, e eu estou aqui rezando pra o site não
atualizar. Amo escrever, e desejo esse futuro pra mim, se a hipocrisia, o tempo
e o dinheiro não me separarem. Poucas pessoas realmente gostam de ler, isto me
desmotiva bastante, trocam páginas por telas a todo instante, uma coisa que
certamente a folha não faz é me trair... Já tinha começado isto antes,
entretanto parece que o notebook não gostou das minhas frases, pois ele decidiu
simplesmente apagar tudo... E não é a primeira vez essa semana. Poucas pessoas
entendem o que eu realmente quero dizer, e colocam nomes onde não há nomes isso
me irrita um pouco. Se quiserem nomes eu lhe darei nomes, não tenho por que
esconder verdades, na verdade... Eu lhe darei nomes se me lembrar deles (Já
falei que sou muito esquecida?). Enfim... Eu escrevo desde que eu aprendi a
escrever óbvio, mas eu conto histórias desde que me entendo por gente!! Minha
mãe lia pra mim, e eu amava aqueles contos infantis! Nada de Chapeuzinho Vermelho,
nem Bela Adormecida esses já estão ultrapassados demais! Meu livro preferido
era "Chapeuzinho Amarelo" de Chico Buarque, mas tinham vários
outros... Além das historinhas que meu pai inventava, me contava toda noite era
"O olho só" a história de um monstro horripilante, mas bonzinho que
consertava bicicletas! Histórias com leões, dragões e até o Minotauro! Quando
eu tinha uns 5 aninhos eu chegava à escola e contava as historinhas para os
outros, um dia a professora me viu e me nomeou de "Vitória contadora de
história" mesmo que eu ache que ninguém mais se lembre disso. (Valeu tia
Eneida!) Já no 4º ano, eu aprendi a rimar, ficava brincando com isso o dia
inteiro!! Amava a "arte de combinar palavras". Até que um dia, sem
querer virou poesia, e ficou gravado "Vitória contadora de história Maria
contadora de poesia" como eu amava esses títulos!!
No 8º ano, primeiras desilusões amorosas, foi
um momento crítico onde falar sobre amor já não fazia sentido, e eu nem
percebia que Deus estava ali comigo, mas quando só se enxerga dor... Não se
enxerga mais nada. Eu poderia falar sobre isso como se fosse ontem, ou melhor,
como se fosse hoje. Dia 15 de maio de 2016, tarde ensolarada, violão preto na
porta, noite fria. Mas... Considerando que são 3 e 7 da manhã... Melhor
desconsiderar esses detalhes. O importante foram aqueles dois meses que eu não
conseguia nem rabiscar algo escuro no canto do papel, que não conseguia fazer
nem uma rima boba e isso me atormentava a cada dia que passava. Acho que foram
os dois meses mais longos da minha vida, pense... Estou aqui há 5 horas e nem
vi o tempo passar. Apelidei está fase de "crise criativa".
Hoje estou aqui, descobri as
metáforas e não consigo mais me livrar delas... Mudei bastante, me destruíram e
eu me reconstruí, segurei na mão de Deus e me apoiei nas pessoas que sempre me
contavam histórias, (esqueci de dizer que meus avós também sempre me contavam
fábulas).
Bem minha estrutura nunca foi de
ferro. E eu continuo me comparando a aquela pequena igreja azul, estão
reformando ela. Eu era uma capelinha hoje sou uma basílica, fui me construindo
a cada pedrinha. Ela literalmente cresceu, mas assim como eu, e este texto,
ainda está em construção...