Como
tudo começou?
Caros leitores, muitos de vocês
não devem saber de onde veio a coluna do Batom Vermelho, quem teve a ideia,
onde tudo começou. Hoje nós, as garotas do Batom Vermelho, viemos contar um
pouco da nossa própria história e como ela tem a ver com a importância de
informar devidamente as pessoas.
Há cinco anos, eu (Vitória Gava), uma das criadoras da coluna, ouvi
falar pela primeira vez de feminismo, na internet. Era um meme que falava sobre
feminismo, não sei ao certo o quê, mas a coisa que me chocou de verdade foi uma
pergunta de um homem nos comentários, que tratava de um assunto já falado aqui
na coluna, o comentário era “Se o machismo não é bom, por que o feminismo
seria?”. Esta pergunta me instigou, colocou uma pulguinha atrás da minha
orelha, naquele momento eu tive a mesma dúvida. E foi assim, com um simples
comentário que tudo isso começou.
Eu me perguntava “O que o feminismo prega? Será que ele também é ruim
como o machismo? Por que as pessoas parecem tão dispostas a falar sobre isto?
Será que é algo importante?”. Mas eu, como boa curiosa que sou, resolvi ir
atrás das respostas. Neste momento abriu um mar de rosas em minha frente, meus
olhos brilharam, afinal, eu nunca havia entendido por que rosa é cor de menina
e azul de menino, não faz o menor sentido! (Até hoje não faz!). Nunca havia
entendido por que os irmãos de todas as minhas amigas que tinham irmãos ficavam
na frente da TV ou videogame o dia todo enquanto as irmãs, muitas das vezes
mais novas que eles, tinham que ajudar suas mães nos afazeres domésticos, e até
ajudar a cuidar dos irmãos mais novos enquanto a mãe trabalhava (as meninas
tinham 12 anos e já limpavam a casa toda, chegavam da escola, faziam almoço e
depois ficavam cuidando dos irmãos mais novos) e isso não era mil novecentos e
guaraná de rolha não! Era 2015! E não eram uma ou duas amigas, era a maioria!
Na minha cabeça, já não cabiam mais pulguinhas, eu era vestida de
questionamentos, e quando eu perguntava a algum adulto sobre este fato, ele
apenas dizia: “Aaaah, ele não faz nada porque é homem”, “Mulher tem que fazer
as coisas, homem não”. Desde criança, ser homem já parecia uma vantagem.
Então, mesmo com a pouca idade, eu já entendia bem o que o feminismo queria:
igualdade. Ele explicava as minhas dúvidas sobre desigualdade de gênero,
sexismo rivalidade feminina, dentre tantas outras coisas que caberia citar, e
ele propunha uma sociedade mais justa, mais racional, sem se basear em
estruturas passadas que não fazem sentido. O feminismo propunha, na minha visão,
um mundo melhor.
Mas quando comecei a falar para as pessoas sobre isto, eu fui xingada,
coagida, até mesmo ameaçada de ser agredida. Nesse momento, eu tive medo,
pensei “Acho que o feminismo não deve ser algo tão bom assim”. Sim, tudo na
minha vida parece ser muito intenso, e de fato é, eu que costumo falar muito,
me calei, as pessoas me falavam coisas que eu não entendia, falavam que as
feministas eram contra a igreja, que elas eram fedidas e tinham as axilas
peludas; as pessoas me diziam para eu não me tornar aquele bicho horrendo que
era uma feminista, e eu calada, não entendia, “Como o mar de rosas se cobriu de
esterco? Onde está este lado obscuro do feminismo que eu não consigo ver, mas
que todo mundo me diz? Onde foi que o sonho se tornou pesadelo?”. Eu, como boa
curiosa que sou, resolvi ir atrás das respostas, mas elas não estavam na
internet, foram anos para encontrá-las, cerca de quatro; li inúmeros livros, tive
o prazer de conhecer uma das autoras pioneiras a escrever sobre feminismo no
Brasil, propus, com a ajuda da professora de sociologia e filosofia Ernestina,
“Cafés Filosóficos” com este tema, não com o intuito de passar conhecimento, eu
queria mesmo era aprender! Mas nada das respostas…
Por um tempo eu concluí que eu não sabia o que era feminismo… Parecia
que eu via tudo por uma bolha cujo cheiro era agradável tal como o perfume das
rosas, mas na verdade o feminismo era ruim! Pecador! Mal lavado e podre! Eu me
sentia sozinha e eu só queria que alguém me tirasse daquele lugar, para que eu
pudesse desfrutar da verdade.
E eu só a encontrei quando eu parei de focar na minha bolha e comecei a
olhar para mim mesma, afinal, eu havia feito tantas coisas, durante tanto tempo,
para descobrir o que era feminismo e eu não via esse movimento como algo tão
horripilante e asqueroso assim. Pensei “Eu li tantos livros, inclusive
conversei com a autora de um deles, propus debates, pesquisei, li sites,
jornais, as pessoas que me falam o que o feminismo é e o que ele não é têm que
saber mais do que eu, certo?" Certo! Perguntei-me se elas sabiam, e a
resposta era não! Foi quando eu decidi abrir o jogo e levantar bandeira. Eu
perguntava sobre as fontes das outras pessoas nas discussões, eu perguntava o
que as pessoas sabiam sobre o feminismo e elas sabiam muito pouco ou nada!
Percebi que os ignorantes que diziam o que o feminismo era às vezes tinham a
primeira das minhas dúvidas, às vezes a segunda ou a terceira… Eram pessoas tão
sedentas de respostas que sucumbiam à ignorância para ter alguma, mesmo se ela
estivesse tão errada. Foi quando eu percebi que precisava informar as pessoas,
tirar as pulguinhas de trás das orelhas delas, antes que elas pesassem tanto
que caíssem no chão e começassem a dizer bobagens. E então eu percebi que eu tinha
embasamento e temas mais que suficientes para ter uma Coluna no jornal da
escola e convidei uma amiga minha para embarcar nesta jornada comigo,
preenchendo cabeças com conhecimento, corações com paz e a sociedade com mais
igualdade.
Hoje, eu agradeço a minha amiga Isabela
Andrade por ter criado esta coluna comigo, sem ela isto não existiria. E mesmo
que às vezes as amizades se vão, Isa, saiba que uma parte da pessoa fica, como
uma semente plantada no coração, que enobrece e dá vida quando as flores se
abrem e você, com certeza, é uma semente de girassol plantada em meu coração,
mesmo que um dia não caiba a nós escolher ficar, haverá sempre um amarelo
dentro do peito. Muito obrigada.
Agradeço também a professora de Português e Inglês Paula Campos, que
sempre dedicou suor a colocar meus textos de pé, a “professorinha” que criou
este projeto tão maravilhoso que é o Tribuna, sempre me motivou a ser poeta,
escritora e desenhista.
Mas agradeço principalmente a você, caro leitor, ainda mais se chegou ao
fim do texto e doou um pouco do seu tempo a me conhecer um pouco melhor, saiba
que meu coração jorra felicidade ao saber que há um par de olhos descendo os
versos do texto, olhos focados a aprender, olhos dedicados, olhos curiosos assim
como os meus até hoje permanecem.