Google+ Tribuna Estudantil - O Jornal do HD: Memórias da imprensa

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Memórias da imprensa

Memórias da imprensa

Olá, meu nome é Claudia e minha intenção aqui é falar de memória. Todos nós temos, não é mesmo? Com o tempo elas se tornam mais valiosas, e mesmo que nós não nos demos conta, o exercício de lembrar e esquecer se repete em nosso cotidiano sistematicamente. As memórias sobre as quais vou recorrer aqui são do Tribuna Estudantil, que completa uma década de existência, o mesmo tempo desde que completei o ensino médio. 
Começarei contando, então, que eu fui aluna do HD e antes de mim, minha irmã, e depois de mim, meus primos, que por acaso são como irmãos. A maioria das pessoas das redondezas de onde cresci tem uma ligação com a escola, ou vão ter. Lembro-me da fase em que o uniforme da escola era cinza e que os tempos eram outros, havia muita desvalorização e descrença, de todos os lados: da comunidade, da equipe, professores, colaboradores e, de forma bem mais intensa e prejudicial, dos alunos. Lembro-me de não querer me matricular ali e de também não ter outras opções. 
Estudei antes disso na “Municipal Yayá Moreira” e, antes de lá, em uma escola chamada “Municipal Dr. João Raimundo de Figueiredo”. É bom dizer que não sou tão velha assim e também que o tempo escorre entre os dedos, mas o foco é outro, como leram, ambas as escolas eram municipais, ou seja, estudei toda a minha vida utilizando o ensino público e pela questão financeira não havia outras opções.
A impressão que ali seria um lugar tão ruim segundo era falado passou assim que atravessei o portão, os professores estavam cada vez mais empenhados. A maioria das aulas de que eu me lembro eram baseadas em mostrar para nós, alunos, as possibilidades que tínhamos em continuar estudando, em tentar nos profissionalizar, em nos conscientizar de que não estávamos tão atrasados com relação ao ensino e aprendizagem em comparação a outras escolas, ou ao nível de educação do nosso estado, país. Enfim, era necessário trabalhar a autoestima muito antes de trabalhar os conteúdos didáticos. 
Com a proposta de mostrar as possibilidades que tínhamos após o ensino médio, conheci através do Henrique Diniz universidades públicas e me interessei mais com relação a qual profissão assumir, e percebi que talvez não fosse demais acreditar que poderia ingressar no curso superior. Antes daquele momento, eu pensava que na melhor das hipóteses, estudaria alguns anos e passaria em um concurso público, o que de fato fiz e, felizmente, não dei continuidade, meu caminho era outro. 
O Tribuna Estudantil surgiu, hoje vejo dessa forma, com a necessidade de os professores ouvirem os alunos, estavam empenhados em fazer com que nós nos enxergássemos como eles nos viam, com todas as nossas possibilidades e capacidade. Afinal, era necessário diálogo, e foi assim que as coisas começaram a mudar. Apesar de o Tribuna ter sido um projeto iniciado quando já se encerrava meu tempo no HD, antes disso o espírito dele já estava ali. Não fui uma colaboradora assídua de conteúdo. Mesmo que escrever seja meu hobby, sinto que é uma coisa pessoal demais e tenho dificuldades para compartilhar. Por outro lado, sempre gostei do conteúdo, acompanhava o mural, os desenhos, os textos e acompanho o blog. Achava que correspondia na expectativa de trabalhar a autoestima dos alunos, achava também que nos unia, nos colocava como iguais. 
Quando penso na importância que a leitura e a escrita tiveram na minha trajetória, a memória me mostra que ela foi aquilo que sempre me abriu possibilidades. Foi o mundo literário que me uniu a um dos meus amigos mais antigos, que se tornou escritor, era com ele que passava muitas aulas escrevendo histórias, não aprendíamos matemática, mas éramos muito bons em narrativas. Foi através da paixão de um professor, chamado Sérgio, por quadrinhos que conheci meu super-herói favorito, o Demolidor, caso queiram saber, e foi por culpa da Gibiteca, projeto que ele idealizou no “Yayá” enquanto eu fazia ensino fundamental, que passei a ouvir mais o que ele dizia e a gostar da disciplina que ele ensinava: História. Foi com a iniciativa da Paula e do Felipe de se colocarem à frente de um projeto como o Tribuna Estudantil que fiquei mais atenta sobre como os professores que realmente acreditam na profissão são capazes de transformar a impressão daqueles que os cercam, e vi que a crença na educação pode transformar o futuro de inúmeras pessoas, inclusive o meu.
Por me propor a falar das memórias do Tribuna, fica indissociável falar das escolhas que fiz na fase que estive no Henrique Diniz, e na trajetória que tomei. Quase me tornei historiadora, comecei o curso, mas ainda não estava confortável. Me encontrei na arquitetura e em algumas semanas concluo o mestrado que tem como foco patrimônio cultural. Sem qualquer exibicionismo, falo isso para lembrar que todos nós temos a chance de nos profissionalizar com qualidade e gratuidade, me tornei a prova disso graças a existir no Henrique Diniz as pessoas que sabiam o que era preciso ser dito. 
Os desafios dessa etapa de ensino médio são enormes, eu sei. Meus pais são apenas alfabetizados, não imaginariam como, sendo assalariados, seria possível que eu conseguisse estudar fora, me manter em uma cidade diferente. Não é fácil, mas é possível, e sobre isso posso contar, caso se interessem, em outro momento. 
O fato é que os dois últimos anos dediquei boa parte do mestrado fazendo pesquisa histórica, fiquei por horas em arquivos, lendo jornais, documentos. Já não seria possível lembrar quantos “Tribunas” folheei: da Tarde, da Manhã, Regional, de Minas, do Commercio, Liberal, Popular, do Povo ... a memória falha. Mas certamente o “Tribuna Estudantil” não será esquecido. Não é só um mural em que eu parava toda semana para ler e acompanhar, e é um blog que ainda acesso. O que realmente marca sobre o Tribuna são as pessoas, ele foi uma proposta de troca: aqueles que tinham tanto a nos dizer, coisas que precisávamos tanto ouvir e acreditar...nos dando direito a palavra, nos ouviram também. 
O aniversário do Tribuna é uma ótima oportunidade para parabenizar idealizadores, participantes, leitores, assim como uma boa chance de agradecer a todos do HD. Saíram dali engenheiros, professores, enfermeiros, fisioterapeutas, tecnólogos, técnicos, enfim, do Henrique Diniz vocês podem sair para serem quem vocês sonharem, sem deméritos, sem desculpas, sem insegurança. Do Henrique Diniz podem sair os melhores profissionais no que desejarem ser, porque lá estão as melhores pessoas, amigos; lá estão meus mestres. 
Apenas mais uma coisa a lembrar, se eu não contasse com a sensibilidade dessas pessoas, estaria por mais alguns anos sem conseguir sair do ensino médio por conta de não conseguir aprender matemática, mas tive sorte, e elas estavam lá. Não sei se algumas delas continuariam dormindo tranquilas sabendo que agora posso calcular estruturas. Rs. 
Obrigada, Tribuna Estudantil, e meus parabéns vêm do desejo de eu ser a mudança no mundo que vi partir de você!



Cláudia Reis

Nenhum comentário:

Postar um comentário