Por Letícia Costa Nunes Pereira, 2.12
Um
minuto
E
|
le só via a traseira do ônibus
enquanto corria desesperado atrás dele. Um minuto. Esse foi o tempo que definiu
toda a vida dele. Por “um minuto” ele não pegara o ônibus. Por “um minuto” ele
teria que esperar o outro transporte, que demoraria quarenta e cinco minutos
para chegar. Por “um minuto” chegaria atrasado à escola e por “um minuto” ele
conheceu o amor da vida dele.
Ela era linda, parecia um anjo no
meio do inferno. Seus cabelos loiros e sua pele clara eram peculiares no meio
de cabelos escuros e peles queimadas de sol. Parecia uma miragem. Mais tarde,
no mesmo dia, ele descobriu o nome dela. Fernanda, ou melhor, Nanda, como ela preferia.
Ficou sabendo também que ela era voluntária de uma ONG que atuava na comunidade
em que ele morava.
A surpresa maior foi na
segunda-feira. O dia parecia normal, Dinho, como sua avó o chamava, andava
pelos corredores da escola, na qual tanto batalhou para entrar, e no meio do
fluxo de pessoas lá estava ela, entre peles claras e cabelos loiros se
contrastando com seu cabelo escuro e pele queimada pelo sol. Mas essa diferença
não o abalou. No intervalo, ele foi até ela e Nanda, para a surpresa de Dinho,
foi simpática. Conversaram de tudo um pouco, até o intervalo acabar.
Um sorriso bobo estampou o rosto
de Dinho o resto do dia. E assim foram passando dias, semanas, meses, com eles
ficando cada vez mais próximos. Para ele, foi amor à primeira vista. Para ela,
demorou um pouquinho mais.
Quando ele foi contar para sua
avó, nossa!, foi uma alegria. Quando ela foi contar para seus pais, eles a
proibiram de ficar com ele. “Ele é negro, pobre e mora em uma comunidade”,
essas foram as exatas palavras de seu pai. Ela ouviu tudo calada, inconformada
com a forma preconceituosa de seu pai. Sua mãe nada disse, só observou o marido
gritar aos quatro ventos que sua filha nunca namoraria um favelado. Mas a
menina era teimosa e continuou o relacionamento. Afinal, estava apaixonada.
Dinho estava nas nuvens. Sua avó
ficou tão feliz pelo neto que convidou Nanda para almoçar na humilde casa
deles. Ela foi. E só Deus sabe o quanto eles se divertiram naquelas horas.
Ele, sabendo da violência do
lugar onde sempre morou, caminhava junto a ela para o ponto de ônibus, o mesmo
daquele dia em que ele se atrasou.
Um minuto. Esse foi o tempo que
tudo durou. Ele olhou para o lado e lá estava ela, com um sorriso tão brilhante
no rosto! “Um minuto” para ele se apagar. Seu olhar tão sincero, “um minuto”
ara se fechar. “Um milésimo de segundo” para o projétil perfurar sua linda
pele. “Um minuto” para dois pais perderem a única filha. “Um minuto” para ser
apenas mais um número. “Um minuto” para Dinho perder o amor da vida dele.
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