Google+ Tribuna Estudantil - O Jornal do HD: Um minuto

segunda-feira, 18 de março de 2019

Um minuto


Por Letícia Costa Nunes Pereira, 2.12

 

Um minuto


E
le só via a traseira do ônibus enquanto corria desesperado atrás dele. Um minuto. Esse foi o tempo que definiu toda a vida dele. Por “um minuto” ele não pegara o ônibus. Por “um minuto” ele teria que esperar o outro transporte, que demoraria quarenta e cinco minutos para chegar. Por “um minuto” chegaria atrasado à escola e por “um minuto” ele conheceu o amor da vida dele.
Ela era linda, parecia um anjo no meio do inferno. Seus cabelos loiros e sua pele clara eram peculiares no meio de cabelos escuros e peles queimadas de sol. Parecia uma miragem. Mais tarde, no mesmo dia, ele descobriu o nome dela. Fernanda, ou melhor, Nanda, como ela preferia. Ficou sabendo também que ela era voluntária de uma ONG que atuava na comunidade em que ele morava.
A surpresa maior foi na segunda-feira. O dia parecia normal, Dinho, como sua avó o chamava, andava pelos corredores da escola, na qual tanto batalhou para entrar, e no meio do fluxo de pessoas lá estava ela, entre peles claras e cabelos loiros se contrastando com seu cabelo escuro e pele queimada pelo sol. Mas essa diferença não o abalou. No intervalo, ele foi até ela e Nanda, para a surpresa de Dinho, foi simpática. Conversaram de tudo um pouco, até o intervalo acabar.
Um sorriso bobo estampou o rosto de Dinho o resto do dia. E assim foram passando dias, semanas, meses, com eles ficando cada vez mais próximos. Para ele, foi amor à primeira vista. Para ela, demorou um pouquinho mais.
Quando ele foi contar para sua avó, nossa!, foi uma alegria. Quando ela foi contar para seus pais, eles a proibiram de ficar com ele. “Ele é negro, pobre e mora em uma comunidade”, essas foram as exatas palavras de seu pai. Ela ouviu tudo calada, inconformada com a forma preconceituosa de seu pai. Sua mãe nada disse, só observou o marido gritar aos quatro ventos que sua filha nunca namoraria um favelado. Mas a menina era teimosa e continuou o relacionamento. Afinal, estava apaixonada.
Dinho estava nas nuvens. Sua avó ficou tão feliz pelo neto que convidou Nanda para almoçar na humilde casa deles. Ela foi. E só Deus sabe o quanto eles se divertiram naquelas horas.
Ele, sabendo da violência do lugar onde sempre morou, caminhava junto a ela para o ponto de ônibus, o mesmo daquele dia em que ele se atrasou.
Um minuto. Esse foi o tempo que tudo durou. Ele olhou para o lado e lá estava ela, com um sorriso tão brilhante no rosto! “Um minuto” para ele se apagar. Seu olhar tão sincero, “um minuto” ara se fechar. “Um milésimo de segundo” para o projétil perfurar sua linda pele. “Um minuto” para dois pais perderem a única filha. “Um minuto” para ser apenas mais um número. “Um minuto” para Dinho perder o amor da vida dele.


Nenhum comentário:

Postar um comentário