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terça-feira, 9 de abril de 2013

Saudades

Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota da infância, que teima em voltar cada vez mais nítido. Embora o tempo só passe, o tempo leva e ao mesmo tempo deixa saudades, saudades daquela vida normal que eu tenho, saudades até das palavras que eu dizia em temor. Eu tenho saudades, bom, todo mundo sente saudades de algo que passou.

Um, dois, três, quatro, começo a contar de novo os azulejos da parede de uma casa. Cada vez que eu conto, saudades vêm devorando meu pensamento. Saudades daquela época em que eu não contava nenhum azulejo. Saudade daquela época em que eu não soletrava ou repetia algo, saudade e mais saudade.

O relógio desperta, já são cinco horas da manhã, hora de me levantar. Quando me levanto, aquela vontade louca de pisar em todos os pisos da casa, mas não; eu não posso fazer isso. Eu tenho que me controlar; será que adianta? Quase nunca. Ouço uma voz em meu pensamento me dizendo que eu devo pisar em todos os pisos da casa; mas não. Eu insisto em me deslocar de um lado para o outro sem ao menos pisar em algum piso que me deixe ansioso. Já está na hora de trocar de roupa, tomas café e ir ao colégio, mas os pensamentos persistem cada vez mais nítidos. Terei eu forças? Penso, mas o tempo passa; não, melhor dizendo, o tempo voa. Finalmente, já estou no colégio.

Toca a sirene, a primeira aula é de Português. A professora entra, abre o livro e começa a explicar. Eu mal consigo abrir o livro e o caderno juntos, mas a professora insiste com os olhos vidrados em mim. Eu tento explicar por telepatia que eu não consigo, pois há uma voz dentro da minha mente pedindo-me para que eu mantivesse o livro e o caderno fechados. Eu tento explicar através dos meus olhos que sou portador do TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), mas parece que ela não entende ou não quer entender.

Bate o sinal, ufa, que alívio! Findou a aula, mas ela volta no quarto e último horário. Ela volta sem entender nada.
Entretanto, o TOC persiste no portador, sugando as energias, tornando-o mais cansado. Mas, a cada dia que passa eu sinto melhorar. Ele vai sair da minha mente. O que talvez nunca sairá são as saudades que se instalam no meu ser.

Leandro Marques de Moura, 3.13

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