Por André Lucas Antunes Dias, 3.9
Manifesto contra o
legislar
O garoto nasce com os dizeres de
hegemonia
O garoto nasce e já sabe que a
roupa não é ele quem limpa
O garoto cresce e se casa em uma
casa onde vive em constante tirania
Agora acha que sua mulher é a que
tem que ficar na pia
Agora acha que a mulher é o
brinquedo feito para trazê-lo alegria
Enquanto no sofá, em frente a TV,
ele espreguiça todo dia
Enquanto ensina os mesmos valores
à sua cria
É um ciclo infinito de uma
cultura em epilepsia
Já estou farto dessa constante
pneumonia
Desses cantos de melancolia
Me assassino todos os dias para
que minha matéria forme sobre o solo uma árvore frutífera
Pois esse formigueiro já não
suporta mais carregar os mesmos pesos sobre as costas
Ei de gritar e tape os ouvidos se
sua anemia já for tão grande que te levou para uma realidade onde só reina a
mentira
Ei de gritar que já estou farto dessa
adoração à autotirania
As pessoas por aqui nascem
confusas, em um mundo em que existe tristeza e alegria
A fim de manterem a alegria
sempre por perto cedem tudo o que têm a alguém que mostre os passos para essa
utopia
Ora, são todos estúpidos, estão
dando poderes a legisladores!
E não há caos mais profundo do
que um ser imperfeito que se ache capaz de dizer qual decisão alguém deve tomar
para a perfeição alcançar
Dessa forma criamos o primeiro
monstro
Aquele que gosta de se exibir,
mas não muito, apenas o que se encontra na superfície
Aquele que fala grave para que o
temam
Aquele que mente para si mesmo
enquanto tenta convencer mais pessoas com as suas mentiras
De que o que importa é a
superfície, poros sujos e oleosos, não a profundidade da mente
- Sim, estou falando do homem
moderno, aquela criatura esdrúxula citada no início!
Esse monstro tentará dizer que
seu opositor, ou seja
Um ser de carinho, racionalidade,
que busca a integridade
É quem deve ser considerado o
monstro, incapaz de ocupar o cargo de criador de leis
É claro que o monstro não gosta
de exibir sua profundidade
Dessa forma todos descobririam
sua real identidade
Por isso não quer que ninguém
adentre seu ser
Pois assim seria fácil de
perceber sua medíocre encenação, tortuosa dança de cisne morto no chão
Esse é apenas um dos monstros,
pois nós realmente gostamos de criar monstros
Ah! gostamos tanto que há um que
muitos até hoje o beijam, abraçam e tornam-se totalmente submissas a ele
Esse segundo monstro a que me
refiro é o mais terrível!
Pois ele não se encontra no mundo
físico, onde poderíamos mais facilmente observar sua feiura
Mas sim num mundo distorcido,
onde sempre que tentamos desvendá-lo dizem que essa área não é segura
Ora, quase dizem que a procura
pela verdade é uma procura pela própria sepultura
E quando vamos mergulhar nesse
lago raso que encheram para o monstro se banhar
Chacoalham a água para que só
possamos ver o azul da superfície daquele lugar, como se tudo fosse bonito e
digno de se confiar
Sim, estou falando de Deus!
Mas não qualquer Deus, e sim
aquele Deus pensado como única escolha
Ó, me desculpem, eu falei para
tapar os ouvidos quem já estiver muito anêmico
Pois o que direi abala
estruturas, e não é qualquer um que consegue suportar!
Vocês vivem alheios de si!
Vocês acreditam que há alguém a
observar e a dar marteladas a cada pensamento considerado errado
Mas, digo, vocês mesmos criaram o
martelo, e vocês mesmos que criam essa contusão e dor de cabeça ao pensar em
algo que acham que não deveriam pensar
Pois eu digo: o escuro é o maior
criador!
O mal é o bem mais louvável!
Pois só quem explora esse lado da
consciência está preparado para entender o que de fato o faz bem e o que de
fato não o faz!
Oh! Caros amigos de espécie, não
se extingam!
Não tentem viver conforme as regras
de mais um legislador
Para que tantos legisladores
quando as leis não são universais?
Ah! Mas procuras uma salvação, um
lugar onde possa repousar, dirá!
Mas então pergunto: Se uma
empresa de viagens lhe oferece uma promoção, podendo visitar qualquer lugar que
um dia pôde imaginar
Mas com a condição de que
precisará trabalhar como um escravo em seus setores de limpeza
Até que após 10 anos possa nessa
aventura embarcar
Você iria aceitar?
Ora, acredito que primeiro
perguntaria "isso é mesmo uma promoção?"
E pior ainda:
Se cumprir o prazo de 10 anos e a
empresa falir e te abandonar?
Como sabe que realmente terá essa
viagem após o árduo trabalho que terá de realizar?
O século XXI, acreditem, ainda é
de escravos
Ainda caminham sobre a rua
pessoas com grilhões entre os braços
E fomos nós que criamos os
monstros que vieram para nos acorrentar
É isso, se quiserem, distribuam
flechas pelo ar, para o meu peito acertar, pois acabo de em mais um dia me
matar
Meu enigma nasce, meu corpo pode
até ir embora, mas aposto que, após meus dizeres, farei ao menos com que pensem
duas vezes em relação a quantos mais monstros estão prestes a criar
Eduardo Galeano uma vez salientou
a importância de não se nascer importante
Se referia aos Estados Unidos e o
descaso que a Inglaterra tinha pelo seu solo repleto de índios e sua fúria
cortante
Dessa forma desenvolveu-se
manufaturas sobre esse solo, sem a vigilância da metrópole, que logo foi
impulso para levar esse país a ser da economia dominante
Enquanto o Brasil agonizava tendo
suas riquezas extraídas como principal colônia de Portugal e de todo Europa
servente incessante
Eu saliento que também não
estamos dando importância a esses monstros que só crescem e mais tarde nos
devoram
Eles nascem e não os damos a
devida atenção, enquanto extraímos nossa suposta alegria em produtos que
favorecem a economia e, por conseguinte, nos cega do regime de escravidão
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