Google+ Tribuna Estudantil - O Jornal do HD: Questionando o Inquestionável: o Deus que falha

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Questionando o Inquestionável: o Deus que falha

 Por Menocchio

Questionando o Inquestionável: o Deus que falha


Será que foi Deus quem criou o universo à nossa volta como conhecemos? Seria ele capaz de vir a nós como uma espécie de salvador? A maior parte de mim se envolve por dúvidas que resguardo comigo, não por medo, mas por me contentar com a dúvida, afinal é através dela que podemos entender o mundo. Então hoje, eu lhe convido a pensar comigo. Sou cético por duvidar de forma crítica do cristianismo que conheço. Os cristãos são dos mais intolerantes grupos religiosos (Vale ressaltar que Jesus não era intolerante e nem pregou a intolerância, mas alguns dos seus seguidores sim, como a Inquisição na Idade Média, por exemplo. Questão para você: Será que todo esse tempo, após Jesus passar por aqui, alguém conseguiu viver de fato a proposta do cristianismo?), basta olhar para todas as divisões dentro do cristianismo, como: batistas, ortodoxia, catolicismo, pentecostal, e muitas outras variações de uma única corrente ideológica. A falta de tolerância criou revoltas, diferenças políticas, teológicas e interpretações divergentes, o que gerou guerras e conflitos em nome de um Deus misericordioso e pacifico.

O cristianismo, por mais intolerante que seja na sua essência, tem em sua crença em comum acreditar em um único deus (ignorando a trindade: pai, filho e espírito santo). Deus é um ser definido pela onipotência, onisciência e onibenevolência. Para entender Deus, temos que compreender seus atributos divinos. Onipotência: é o poder supremo ou absoluto, o poder de fazer e ser tudo. Onisciência: o poder de saber e compreender tudo. Por último e também não menos importante, a onipresença: que permite se estar em todos os lugares simultaneamente. Você, assim como eu ou qualquer outro, não precisa entender sobre isso para discordar da existência de Deus.

Em uns três séculos antes de Cristo, existiu um filósofo grego, Epicuro (341-270 a.C), que viveu antes de Cristo, e propôs que a onipotência seria impossível até mesmo para Deus. Para entender isso, pense que Deus realmente exista e que seja onipotente, sendo assim, Deus poderia criar uma pedra tão pesada a ponto de nem mesmo ele conseguir carregar? Se a resposta for sim, deus não é onipotente, pois se ele não pode carregá-la, ele não pode tudo; e se a resposta for não, ele também não é onipotente, porque ele não consegue criá-la, isso se dá pela lógica do que foi proposto, afinal, não se pode criar um círculo que seja quadrado, ou é 1 ou é 0.

Desta forma, usando a mesma lógica, Deus não pode ser “bondade e justiça” por que se ele pode tudo, ele é tão mal quanto bom.

A existência de um deus que é puro amor, justiça e sabedoria, mas que vai te mandar para o inferno, onde você vai arder em chamas eternas, por toda a eternidade e em pura agonia por amar alguém do mesmo sexo, por usar decote (ou qualquer roupa fora dos padrões de sociedade), por ter fetiches sexuais, por estudar outras religiões, por fazer tatuagens e usar piercings, por escutar jazz, blues, heavy metal, ou qualquer outra coisa da imensa lista que está em constante mudança pelos cristãos, é uma falácia cheia de  malabarismos mentais. Ninguém precisa ser um gênio para perceber o quão absurdo é essa ideia, mas tem como ser mais absurdo, já que se você se arrepender dos seus pecados, você escapa do inferno, logo, um assassino que matou centenas de pessoas inocentes pode se arrepender e ir para o “céu”? É uma ideia ilógica e sem evidências que as comprovem. Basta um pingo de racionalidade para compreender que isto não existe.


A falsa fé que os cristãos têm leva-os a crer em absurdos por parte da igreja, que na verdade não passa de uma seita descarada. Cristãos que torcem o nariz para outras religiões, chamando-as de seita, devem olhar para o próprio umbigo, no caso, para um livro que pode ser considerado umbilical do próprio cristianismo, justamente por ter sido escrito no início do primeiro século, relatar os primeiros passos daquilo que mais tarde viria a ser conhecido como cristianismo.


Embora uma terminologia geralmente utilizada para diminuir crenças alheias, seita é uma palavra que está relacionada ao significado de “seguidor”. Simplificando, seria o conjunto daqueles que seguem determinada crença.


Além disso, temos as maiores seitas do Brasil e do mundo, sendo ambas cristãs, a Congregação Cristã no Brasil (CCB) e a católica (eu ficarei mais na CCB, pois tenho mais experiência com pessoas dela).


A CCB, é uma seita que se aproveita da inocência dos fiéis, dizendo ter todas as verdades e “tudo está claro!”, mas a verdade pode ser obscura. Para começar, o tipo de forma como os cultos são, começam lendo algo e, através de falácias e distorções, conseguem fazer de vítimas os coagidos e carentes de respostas. “Tem irmãos aqui que acham que não tem esperança, não tem mais jeito. Chegou aqui abatido e triste, tem ânimo pois *vou* fazer obra na tua vida”, é sempre “Deus vai fazer”, “O senhor diz” ou até “deus disse para mim”, os exemplos são infinitos e chega ao absurdo, como alguém acredita nisso?


Simples, malabarismos mentais e uso correto de palavras chaves para parecer que “caramba, ele está falando para mim!”. É a vulnerabilidade das palavras e o uso delas que faz parecer que Deus está falando com você, e faz você pequeno, mente fraca, acreditar que você é muito especial. Mas isso é um tiro no escuro, ele não fala para você, ele fala para quem se identificar. Na Psicologia, isso é chamado de sugestão, quando a fala de um sujeito exerce influência sobre outro de modo a interferir na sua emoção ou ação imediata. O médico neurologista Hippolyte Bernheim (1884), em seu livro De la Suggestion dans l'État Hypnotique et dans l'État de Veille define a sugestão como o ato pelo qual uma ideia qualquer é introduzida no cérebro da pessoa e aceita por ele, normalmente sem questionar. No senso comum, isso é chamado de “lavagem cerebral”. E não estou falando que apenas a CCB faz essas distorções nas “sagradas escrituras”, afinal, mais cedo, estive mencionando a católica, que faz exatamente a mesma coisa.

Outra coisa que vale destacar são algumas particularidades da CCB, como negar hierarquias, mesmo possuindo e,  mais importante, não fazer coleta pública nas reuniões, isto é, não pagar dízimo na cara dura. Na verdade, eles tentam enganar dizendo que não tem dízimos, mas sempre tem uma caixa na entrada para você “apoiar a igreja” (bom, isso me cheira a dízimo). Eu poderia até mesmo explicar para você sobre o quão errado e controverso seria o dízimo, mas, verdadeiramente, eu não preciso, pois estou aqui no intuito de expor e apontar os erros das correntes ideológicas mais influentes, não corrigir nada e muito menos ganhar debates. E sim, o catolicismo se enquadra nisso, coincidência? Acho que não.


Catolicismo, esse que a pouco tempo atrás acreditava que a Terra era o centro do universo e que quem discordava estava errado e era caçado pela inquisição… O que era a inquisição? Era uma desculpa para condenar qualquer um que fosse contra as ideias religiosas predominantes na época, afinal, qualquer um poderia ser considerado um herege e ser torturado ou mandado para a fogueira. Isso impedia o avanço de outras religiões? Sim, mas nem todo mundo era contra a religião, e muitas vezes morria da mesma forma. O padre polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) foi perseguido pela igreja por dizer que o sol é o centro do sistema solar e que todas as estrelas eram na verdade outros sistemas, de infinitos sistemas solares, que por sua vez compunham galáxias de galáxias, o que hoje já foi comprovado e aceito. Além de que também teve um filósofo e religioso italiano Giordano Bruno (1548-1600) que foi morto na fogueira por estudar astronomia e física nas suas horas livres e defender, a partir de uma visão mais mística do que científica, que o universo é infinito, está em expansão, não há um centro, tudo é infinito. Fato também aceito pela comunidade científica hoje, mais plausível do que a caixa de sapatos toda quadrada e finita do geocentrismo, teoria que já caiu por terra. Resumindo, a intolerância fez o homem anencéfalo, extremista e cego.


Devo imaginar o choque existencial que foi assumir isso na época, afinal nós como seres humanos temos sede de protagonismo, mas a verdade é que o universo pouco se importa com a nossa existência, basta olhar para a imensidão e a escuridão dele e perceber, você, eu, ninguém é importante; quando se comparado a ele, somos uma gota d'água diante de mares infinitos. E isso me lembra uma das correntes filosóficas mais influentes e estudadas pelo mundo, o Niilismo. Durante séculos, milênios, ou sabe-se lá quanto tempo, o ser humano se viu obrigado a enfrentar o medo do desconhecido, mas depois de um tempo criaram um conforto artificial: o mito de que tudo tinha um propósito. “O niilismo aparece nesse ponto, não porque o desprazer da existência se tornou maior do que antes, mas porque passamos a desconfiar de qualquer ‘significado’ no sofrimento, na verdade, na existência. [...] agora parece que não há sentido algum na existência, como se tudo fosse em vão.” - Friedrich Nietzsche.


O niilismo se refere a falta de sentido ou de valor à vida, para ele nada do que fazemos importa, e para isso vou citar outra frase de Nietzsche, “Deus está morto, Deus continua morto, e nós o matamos!” (A Gaia Ciência, 1882, seção 108). Nietzsche não estava querendo criar o manifesto ceticista, mas na verdade Nietzsche entendia o vazio preenchido pelo sentido atribuído à existência de Deus, mas desde a ciência questionar Deus, fomos obrigados a confrontar novamente a falta de sentido das coisas, e assim, matamos Deus, não no sentido literal, mas cultural, já que para Nietzsche não vivemos de fato os ideais pregados por Cristo, mas falamos uma coisa e fazemos outra, a velha hipocrisia dos fariseus e saduceus no Judaísmo que Jesus já tinha denunciado a mais de dois mil anos atrás. Se Deus são os valores cristãos e nós não os vivenciamos na prática, de algum modo estamos aniquilando Deus. Lembro-me de um velho dito popular que, às vezes, se aplica a algumas práticas religiosas: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.


“Se Deus não existe, tudo é permitido?” -Dostoiévski


Se Deus não existe, eu posso matar e roubar, certo? Não, afinal a crença que já existe em volta de Deus não impediu pessoas de matarem e roubarem outras, eu na verdade diria que foi exatamente o contrário, muitos absurdos foram feitos em nome de Deus. A questão é: por que não matar? A existência não tem sentido. Se ontem você se contentava com a vida que tinha, por que hoje seria diferente? O prazer que você tinha jogando, lendo um livro ou brincando com seus pets, por que fazer essas coisas hoje seria diferente? Talvez sua tristeza não venha pela falta de sentido no mundo ou nas coisas a que você atribuiu um sentido, e sim achar que a vida não tem sentido por estar triste. O nome disso é "Niilismo passivo". Para se curar disso, segundo Nietzsche, seria necessário encarar o fato de que não existem valores absolutos e, por isso, teremos que criar nosso sentido nós mesmos (a partir da arte, música, literatura, escrita, estudo, religião, etc etc).


Nenhum comentário:

Postar um comentário