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terça-feira, 11 de agosto de 2020

Como tudo começou?

 

Como tudo começou?

Caros leitores, muitos de vocês não devem saber de onde veio a coluna do Batom Vermelho, quem teve a ideia, onde tudo começou. Hoje nós, as garotas do Batom Vermelho, viemos contar um pouco da nossa própria história e como ela tem a ver com a importância de informar devidamente as pessoas.

  Há cinco anos, eu (Vitória Gava), uma das criadoras da coluna, ouvi falar pela primeira vez de feminismo, na internet. Era um meme que falava sobre feminismo, não sei ao certo o quê, mas a coisa que me chocou de verdade foi uma pergunta de um homem nos comentários, que tratava de um assunto já falado aqui na coluna, o comentário era “Se o machismo não é bom, por que o feminismo seria?”. Esta pergunta me instigou, colocou uma pulguinha atrás da minha orelha, naquele momento eu tive a mesma dúvida. E foi assim, com um simples comentário que tudo isso começou.

  Eu me perguntava “O que o feminismo prega? Será que ele também é ruim como o machismo? Por que as pessoas parecem tão dispostas a falar sobre isto? Será que é algo importante?”. Mas eu, como boa curiosa que sou, resolvi ir atrás das respostas. Neste momento abriu um mar de rosas em minha frente, meus olhos brilharam, afinal, eu nunca havia entendido por que rosa é cor de menina e azul de menino, não faz o menor sentido! (Até hoje não faz!). Nunca havia entendido por que os irmãos de todas as minhas amigas que tinham irmãos ficavam na frente da TV ou videogame o dia todo enquanto as irmãs, muitas das vezes mais novas que eles, tinham que ajudar suas mães nos afazeres domésticos, e até ajudar a cuidar dos irmãos mais novos enquanto a mãe trabalhava (as meninas tinham 12 anos e já limpavam a casa toda, chegavam da escola, faziam almoço e depois ficavam cuidando dos irmãos mais novos) e isso não era mil novecentos e guaraná de rolha não! Era 2015! E não eram uma ou duas amigas, era a maioria! Na minha cabeça, já não cabiam mais pulguinhas, eu era vestida de questionamentos, e quando eu perguntava a algum adulto sobre este fato, ele apenas dizia: “Aaaah, ele não faz nada porque é homem”, “Mulher tem que fazer as coisas, homem não”. Desde criança, ser homem já parecia uma vantagem.

  Então, mesmo com a pouca idade, eu já entendia bem o que o feminismo queria: igualdade. Ele explicava as minhas dúvidas sobre desigualdade de gênero, sexismo rivalidade feminina, dentre tantas outras coisas que caberia citar, e ele propunha uma sociedade mais justa, mais racional, sem se basear em estruturas passadas que não fazem sentido. O feminismo propunha, na minha visão, um mundo melhor.

  Mas quando comecei a falar para as pessoas sobre isto, eu fui xingada, coagida, até mesmo ameaçada de ser agredida. Nesse momento, eu tive medo, pensei “Acho que o feminismo não deve ser algo tão bom assim”. Sim, tudo na minha vida parece ser muito intenso, e de fato é, eu que costumo falar muito, me calei, as pessoas me falavam coisas que eu não entendia, falavam que as feministas eram contra a igreja, que elas eram fedidas e tinham as axilas peludas; as pessoas me diziam para eu não me tornar aquele bicho horrendo que era uma feminista, e eu calada, não entendia, “Como o mar de rosas se cobriu de esterco? Onde está este lado obscuro do feminismo que eu não consigo ver, mas que todo mundo me diz? Onde foi que o sonho se tornou pesadelo?”. Eu, como boa curiosa que sou, resolvi ir atrás das respostas, mas elas não estavam na internet, foram anos para encontrá-las, cerca de quatro; li inúmeros livros, tive o prazer de conhecer uma das autoras pioneiras a escrever sobre feminismo no Brasil, propus, com a ajuda da professora de sociologia e filosofia Ernestina, “Cafés Filosóficos” com este tema, não com o intuito de passar conhecimento, eu queria mesmo era aprender! Mas nada das respostas…

  Por um tempo eu concluí que eu não sabia o que era feminismo… Parecia que eu via tudo por uma bolha cujo cheiro era agradável tal como o perfume das rosas, mas na verdade o feminismo era ruim! Pecador! Mal lavado e podre! Eu me sentia sozinha e eu só queria que alguém me tirasse daquele lugar, para que eu pudesse desfrutar da verdade.

  E eu só a encontrei quando eu parei de focar na minha bolha e comecei a olhar para mim mesma, afinal, eu havia feito tantas coisas, durante tanto tempo, para descobrir o que era feminismo e eu não via esse movimento como algo tão horripilante e asqueroso assim. Pensei “Eu li tantos livros, inclusive conversei com a autora de um deles, propus debates, pesquisei, li sites, jornais, as pessoas que me falam o que o feminismo é e o que ele não é têm que saber mais do que eu, certo?" Certo! Perguntei-me se elas sabiam, e a resposta era não! Foi quando eu decidi abrir o jogo e levantar bandeira. Eu perguntava sobre as fontes das outras pessoas nas discussões, eu perguntava o que as pessoas sabiam sobre o feminismo e elas sabiam muito pouco ou nada! Percebi que os ignorantes que diziam o que o feminismo era às vezes tinham a primeira das minhas dúvidas, às vezes a segunda ou a terceira… Eram pessoas tão sedentas de respostas que sucumbiam à ignorância para ter alguma, mesmo se ela estivesse tão errada. Foi quando eu percebi que precisava informar as pessoas, tirar as pulguinhas de trás das orelhas delas, antes que elas pesassem tanto que caíssem no chão e começassem a dizer bobagens. E então eu percebi que eu tinha embasamento e temas mais que suficientes para ter uma Coluna no jornal da escola e convidei uma amiga minha para embarcar nesta jornada comigo, preenchendo cabeças com conhecimento, corações com paz e a sociedade com mais igualdade.

 Hoje, eu agradeço a minha amiga Isabela Andrade por ter criado esta coluna comigo, sem ela isto não existiria. E mesmo que às vezes as amizades se vão, Isa, saiba que uma parte da pessoa fica, como uma semente plantada no coração, que enobrece e dá vida quando as flores se abrem e você, com certeza, é uma semente de girassol plantada em meu coração, mesmo que um dia não caiba a nós escolher ficar, haverá sempre um amarelo dentro do peito. Muito obrigada.

  Agradeço também a professora de Português e Inglês Paula Campos, que sempre dedicou suor a colocar meus textos de pé, a “professorinha” que criou este projeto tão maravilhoso que é o Tribuna, sempre me motivou a ser poeta, escritora e desenhista.

  Mas agradeço principalmente a você, caro leitor, ainda mais se chegou ao fim do texto e doou um pouco do seu tempo a me conhecer um pouco melhor, saiba que meu coração jorra felicidade ao saber que há um par de olhos descendo os versos do texto, olhos focados a aprender, olhos dedicados, olhos curiosos assim como os meus até hoje permanecem.

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