Por Vitória Maria Gava Ferreira, 2.14
Pernas
C
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ada uma das minhas pernas tem um problema, uma me leva aonde quer
ficar e a outra me leva aonde não quero ir. Uma dói, esperneia, chora, me
cansa, descansa, só quer dormir.
Já a outra não abre a boca, parece um soldado que só tem ordens para
cumprir, ela está no caminho, marchando, mas não é o meu, e não sei se vai me
fazer feliz.
A esquerda não sai do lugar, só quer ignorar que juntos somos um
sistema. E nesse ir ou ficar, cada uma vai pra algum lugar e soma mais um
problema.
Braços
O
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s meus braços mergulharam, dançaram e tentaram voar, foram pra outro
lugar, voltaram arrependidos só para me estapear. Eles costumam ser
companheiros, às vezes precisam me acordar, me lembrar de quem eu sou e aonde
quero chegar.
Depois de tantos pedidos, achados e perdidos, libertos e oprimidos,
era pegar ou largar, não encontrei um sentido, caminho desconhecido, não havia
percebido que o segredo era equilíbrio e foi com os meu braços que descobri que
a vida é um playground e nós somos
apenas crianças a brincar.
Tronco
O
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coração bate, o estômago
digere, esta parte contém muito epiderme, um enjoo se cria, a pele arrepia, nas
minhas costas eu sinto a energia.
As minhas asas vão surgir, fico ansiosa pelo que há de vir, posso ser
uma fada, um anjo ou uma borboleta, mas não se engane, pois dizem que possui
asa o capeta.
E tudo isso me parece um retrato, eu faço pose e o processo é
demorado. Estou bem, mas sinto que há algo errado, o que me sustenta me remete
ao passado.
Libélulas estão na minha barriga, me sinto leve como uma formiga, tive
muito medo dos destemidos, mas aos poucos meus problemas vão sendo resolvidos.
Junto as mil repartições dos corações, recuperando motivações,
reunindo as ramificações, voltando a sonhar, eu sei que uma flor irá brotar.
Face
E
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m um mundo submerso e escuro encontra-se uma parte de mim, é a minha
face, ela apodrece junto ao esquecimento da verdade.
Abri os olhos, não sei como, pois estava decapitada. Olhei pra cima,
um espelho líquido me refletia e a falta de sono me fez ficar acordada. Talvez
meu sonho tenha me feito ser elevada, pode ser que tenha sido a água, a
correnteza ou um pescador, vivemos como se fôssemos próprios de nós, e ainda
invertemos, acreditamos naquilo a que damos valor.
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