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terça-feira, 29 de abril de 2014

Nos olhos de uma borboleta: o primeiro encontro

Por Andreza Cristina Siqueira Coelho – 3.2

Esta é uma história que aconteceu no fim da década de 1960, na Austrália, especificamente no município de Brisbane, um lugar pequeno em que raramente apareciam flores, animais e primavera.

Todo dia eu a via com aquele rosto sereno e singelo, que se espremia entre as grades de uma imensa casa procurando, com o olhar, o jardim. Estava com um vestido azul no corpo e carregando na sua mão esquerda uma cesta de palha, muito grande, considerando o seu tamanho. A mãe, por sua vez, obrigara a menina a vender os bolos e doces que fazia, esperando aumentar a renda da família.

Numa tarde ensolarada, logo após a manhã na escola, a garota partiu para a venda disposta a ter um dia lucrativo. Mas, quando estava subindo o morro, deparou com a coisa mais linda que vira na vida, uma borboleta, era a primeira borboleta que avistara, suas asas eram azuis com as bordas pretas, o que a fez relembrar os pequeninos olhos de sua irmã. Sem pensar duas vezes, a menina começou a seguir a borboleta e, desta forma, parou aqui nesta imensa casa, em meio às grades. O jardim um pouco distante parecia intacto, com as árvores e rosas brilhando com a luz do sol. E então, ela virou-se e começou a caminhar, guardando, como se fosse o maior tesouro de sua vida, a imagem daquela borboleta. E aquela era a primeira de muitas borboletas que a menina iria colecionar.

A situação econômica da Austrália não ia lá muito bem, e por isso, a família de Lauriel, nossa colecionadora de borboletas, estava vivendo à beira da miséria. Ela e os seus seis irmãos tinham que dividir o pouco de comida que restava, porém o pior ainda iria acontecer. Com o pouco dinheiro, a jornada de trabalho de Lauriel triplicou e ela nem mesmo estava indo à escola. Num desses dias quaisquer, a menina iria colecionar a borboleta mais marcante de sua vida.

Era quase noite e a garota ainda vendia os bolos e doces na parte rica da cidade e, de vez em quando, recebia uma gorjeta que gastava comprando balas para tapear a fome. Chegando à rua da sua casa, viu de longe um aglomerado de pessoas que mal a deixavam se aproximar, olhou para o alto e viu que o céu se tornava escuro somente em cima da casa dela. Lauriel deixou sua cesta cair e começou a correr, ansiosa para ver o que estava acontecendo. Era um incêndio, sua casa estava parcialmente queimada, justamente no quarto onde sua mãe e seus irmãos costumavam ficar. Só parou de correr quando adentrava a casa e, na sala, encontrou a irmã, encostada num canto com o rosto imerso em lágrimas e bastou um olhar entre as duas para concluir o ocorrido. De mãos dadas, Lauriel e sua irmã saíram da casa em direção à cesta que a mesma deixou cair, os olhares de pena das pessoas não aliviavam o momento. E lá estava ela, vermelha e marrom, pousada na cesta de bolos e doces da garota, a borboleta que certamente a menina não esqueceria jamais. E ela voou indo para o céu escuro e sombrio em cima das duas irmãs.

Três meses depois, Lauriel e sua irmã foram adotadas por um casal simples também da Austrália e o que Lauriel não sabia é que muitas borboletas ainda iriam cruzar o seu caminho, em situações completamente diferentes. 

Um comentário:

  1. Andreza, parabéns. Você é uma contadora de histórias. Seu fôlego, sua respiração e sua sensibilidade é de uma romancista. Sugiro que leia Tolstói, Dostoievski, Charles Dickens, Machado de Assis, Lima Barreto, Raquel de Queirós, Graça Aranha... Cultive esse seu talento. Você pode, sim, se tornar uma escritora de sucesso. Grande abraço.

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