Por Vitória Maria Gava Ferreira, 2.14
Personificação
E
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u vejo meu quarto organizado, e
agora até isso pode me inspirar, fico feliz, mas ainda estou triste, confusa,
talvez bipolar. Nada muito incomum para o mundo de hoje, o mundo é bom e o
mundo é cruel, o mundo está acabado, será que o mundo vai mudar? Tenho pena desse
substantivo, deveria ser tão elogiado, aconchegante, em uma temperatura
constante, nossa vida e nosso lar, mas graças a nós, meros humanos, “mundo” já não
é uma palavra boa de usar. Fico imaginando se as palavras tivessem sentimentos,
igual à vida, pobre vida, coitadinha, deveria ser algo tão bonito e sinônimo de
felicidade, mas, na linguagem, parece tão soberba, rude, ignorante. “A vida
ensina, mas o preço é caro”, dizem por aí; “a vida está difícil”, outra pessoa
comenta; “a vida exige isto de você” quando passa por momentos difíceis; e a
vida também não é para qualquer um, a vida dá rasteiras. Eu, particularmente,
teria medo da vida se entrasse no mundo das palavras.
Outra coisa muito estranha é o
tempo. Ele parece ser um remédio eterno, cura para todas as feridas, só o tempo
cura e, se você se decepcionar, relaxe, amigo, leva tempo, mas o tempo leva.
Confesso que já parei em frente ao relógio para tirar satisfação pessoalmente
com este tal de tempo. Entre lágrimas e gritos, eu disse “Ei, você! Pare! Pare
só um segundo! Por favor, ao menos, devolva meus minutos!”. Mas também já pedi
para ele passar rápido, e esse tempo é encrenqueiro, viu? Totalmente “do contra”.
Quanto mais eu falava “pare”, mais ele seguia incessantemente. E quando eu
dizia “vá depressa”, ele parecia demorar uma eternidade. Talvez alguém tenha o
superpoder de fazer dele um objeto. Juro que já ouvi “a gente deu um tempo”,
quase pedi doações. Hoje em dia, eu só aceito que ele me ignora. O meu quarto
ainda está organizado, mas tudo fora do lugar. De qualquer forma, tenho que ir,
meu tempo está acabando, mas, cuidado!, fiquei sabendo que o mundo dá voltas e
o tempo não para. Pelo menos, a vida está boa. Dizem que o mundo está virado.
Fazer o quê? A vida é assim.
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