Por Night Charm
A Vida Leve Como as Flores
Sentei-me à sombra do tempo e deixei que o vento me contasse segredos.
Ele veio manso, como quem nada exige, e sussurrou histórias que já conhecia,
mas que sempre pareciam novas.
“Por que a pressa?”, perguntou-me, enquanto as folhas dançavam sem rumo certo.
“Não vês que até as flores esperam a hora exata para desabrochar?”
Abaixei os olhos, sem resposta.
Quantas vezes desejei apressar os ciclos,
afagar com as mãos impacientes aquilo que só poderia vir com a estação certa?
“E se eu não souber o caminho?”, ousei perguntar, quase num sussurro.
O vento sorriu — não com som, mas com movimento.
As flores também não sabem, mas seguem a luz, e isso lhes basta.
“E quando a tempestade vier?”, insisti, sentindo o medo crescer como raízes profundas.
O vento suspirou entre os galhos.
“Ela sempre vem, mas as flores não se encolhem. Elas se curvam, jamais quebram.”
Fiquei ali, entre o som do mundo e o silêncio do meu próprio peito.
Senti o sol aquecer-me a pele e as pétalas roçarem meus dedos.
Talvez a vida seja isso — confiar sem ver,
seguir sem perguntar, florescer sem temer.
“Mas e se o inverno durar mais do que deveria?”, arrisquei, temendo a resposta.
“O inverno nunca dura além do necessário”, respondeu-me com ternura.
“É ele que fortalece as raízes, que ensina o caule a resistir.”
Fechei os olhos e inspirei o perfume da terra.
A resposta sempre esteve ali, sutil e paciente como a brisa.
Talvez não precisemos saber de tudo,
Apenas confiar que a primavera sempre chega.
E então, como quem já sabia a resposta,
O vento partiu, e eu permaneci.